quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Mundos desconhecidos.

Minhas pernas falhavam a cada passo.
Porém o meu desespero não as faziam ceder.
E a loucura lutava contra a minha sanidade para voltar, deixei o garoto morrer para aquele monstro.
Tropecei contra algumas tábuas de madeira, meu pé vacilou, mas voltei a joga-lo um na frente do outro sem parar, não podia parar.
Não agora.
Seja-la o que aquilo fosse, não era humano.
Não era amigável.
Se parecia com uma aranha, imensa.
Ele falou que se arrancassem o nosso coração, seriamos levados, não sei pra onde.
Ele falou para proteger o meu coração.
Os escombros, todos ao meu redor dava ao ar um tom cinzento, uma escuridão translucida.
Com um pouco do tão precioso tempo, a minha respiração foi acelerando tornando se ofegante, o coração, apertando em uma dor, incomoda, profunda, e o cansaço das pálpebras se intensificando.
Desabei de joelhos.
E também em lágrimas.
Porque isso estava acontecendo comigo?
- Ei - Disse alguém - Levante-se.
Usei o pouco que me restava de forças para me levantar, e percebi, sem olhar, que ao meu lado estava um homem, usando roupas leves, um cachecol e empunhando uma espada por cima do ombro direito.
Ele também não olhou pra mim, olhava para frente, para o lugar que eu tinha vindo.
Sendo que, de longe, a aranha nos fitava, timidamente.
Ficamos nisso, por poucos longos segundos, cada um esperando o outro dar um próximo passo.
- Tem um garoto ali - Comentei com o homem.
- Ele já foi levado.
- Não, ele estava ali tem poucos minutos.
- Se Deus arrancar o seu coração, você já era! - Sua voz parecia mais agressiva - Entende? Você Já Era!
Me arrepiei.
- Porque estou aqui? - Perguntei a espera de uma resposta mais concisa - O que é esse lugar?
- Você está aqui porque morreu - Não podia acreditar nisso - Aqui é um mundo que abrange a pós-vida de seres que morreram através de experiências traumatizantes, nós chamamos de limbo.
- E porque estamos lutando com aquela coisa?
- Porque uma hora ou outra ele nos fará sair daqui.
- O que tem depois daqui?
- Ninguém sabe...
- Então porque mesmo estamos lutando?!
- Você sabe o que há depois da morte garota? Mas mesmo assim luta para não morrer não é?

Elly

"Toda vez que uma feiticeira recorrer a um de seus poderes ocultos, ela deve ceifar e se alimentar de uma alma, a mais energeticamente fraca, que se encontra em um raio de seis a sete metros de onde essa magia foi conjurada?"
"Isso limita absurdamente os poderes delas, principalmente quando consideramos a principal regra do seu credo: Não deixar os humanos sentirem o cheiro da magia"

Deixemos de introduções, eu me chamo Elly, não revelarei a minha idade, feiticeiros nunca devem fazer isso.
Estava me olhando em um espelho velho, dentro de um elevador velho, subindo lentamente em um prédio que parecia cair aos pedaços, pouco tempo depois o elevador simplesmente parou e abriu a suas portas. "Nono andar" dizia uma luz vermelha no canto direito da caixa de metal. Com passos largos e silenciosos fui de caminho a uma porta, "930A" dizia uma placa negra logo acima. Bati duas vezes e esperei.

- A Azul chegou - Disse uma voz obscura de dentro daquela porta.

Um homem, com uma aparência de 27 ou 28 anos, abriu a porta com um sorriso no rosto.
- Bem vinda - disse ele.
- Obrigada - respondi devolvendo o sorriso junto com uma reverência feminina, segurando nas pontas do meu vestido.
- Por favor... 
Passei pela porta, e me deparei com uma festa, pessoas segurando copos com refrigerante, dançando,, conversando, uma mesa cheia de comida, sorrisos sendo postos em liberdade, olhares céticos aprisionando sentimentos, Um ambiente divertido para humanos, porém energeticamente sujo e caótico.
Porém eu não tinha ido ai pra comer, nem pra conversar, e muito menos pra dançar, estava a procura de três bruxas, três fadas caídas que se alimentavam do desespero dos homens.
Andei por entre as pessoas e ao ver um sofá livre me dispus a sentar.

- Bonito o seu cabelo - disse uma garota invejosa vindo ao meu encontro- Você mesma pintou?
- Sim - Respondi.
- Onde foi que achou esse azul tão escuro?

Senti um cheiro agonizante, me levantei e percebi uma porta de madeira escondida sob as sombras do aposento, um lugar que tinha pouca gente.

O coração daquela garota ao meu lado parou, e sua alma, veio ao meu encontro me alimentando.
infelizmente sacrifícios deviam ser feitos, mas eu não me importava. Simplesmente não me importava.
Apenas tinha que terminar o que havia ido fazer.

Só voltei a me movimentar, quando tive certeza que estava completamente invisível. andei com passos curtos, desviando do que viesse a se esbarrar em mim, e abri a porta coberta por sombras lentamente.
ali dentro, estavam três velhas, arrogantes e inteiramente poderosas, que poderiam ser facilmente confundidas por três jovens com a idade a flor da pele. Elas não me viam... Porém sentiam. Teria que ser rápida.

Aquele homem simpático começou a tossir, sentou em uma cadeira, e fechou os olhos para nunca mais abri-los novamente.

Com uma faísca incendiei a porta.
Com um pulo passei pela janela, ainda no ar trancando-a.
E me alimentando de uma criança que escorregava para uma morte certa, na calçada, comecei a voar enquanto escutava os gritos sufocados de três velhas que provavelmente não conseguiriam abrir a janela a tempo.

Desci pelo beco, até tocar o chão com três passos, tão leves quanto uma folha de papel.

Respirei fundo;

E continuei até o próximo prédio. 

domingo, 15 de setembro de 2013

Jazzland

19 de agosto, 2005, New Orleans.

- Mãe - disse; nessa época eu não passava dos 7 anos - O que é aquilo?

Estávamos em um parque de diversões, sentados na sua majestosa roda gigante, no topo, lá no topo,
onde os casais realizam os seus mais devidos e deslumbrantes sonhos, e os solteiros pestanejam ao ver, horrorizados, o mar de horizontes.
- O que, menino? - respondeu ela, apertando os olhos e buscando algo que fosse chamar a minha atenção, ao ponto, de'u comentar isso com ela. As nuvens ameaçavam cada vez mais largar as suas primeiras gotas de chuva, que daria início a talvez uma tempestade. Por esses dias o céu estava de fato muito confuso, o clima mudava muito rápido e de uma hora pra outra, quando estava sol, já estava chovendo. Além do mais, a previsão meteorológica não estava ajudando em nada.
Tínhamos decidido ir para o parque em plena sexta-feira porque era especificamente o dia do meu aniversário. Estava fazendo sete anos, e finalmente poderia brincar nos brinquedos dos "mais velhos", que antes não podia.
Em 2002, quando a Six Flags assumiu e reestruturou todo esse parque, todo mundo comentava que os seus brinquedos competiam com os melhores do mundo. Com toda essa empolgação passando de boca em boca, fiquei extremamente ansioso ao ponto de contar, nos dedos, os dias, desde uma ou duas semanas antes.
Mas até que enfim estava lá.
No ponto que considerava, o mais alto e mágico de New Orleans.
- Sério que vai chover de novo?
- Não tô falando das nuvens não, mãe!
- Do que então, menino?
- Ali em baixo - apontei. Ela se revirou um pouco para olhar onde estava apontando.
- Ainda não tô vendo nada.
- Aquele cara fantasiado ali, perto do Barbe's Ice Cream Shop - Lembro-me de que ele estava nos encarando, mas era inocente o suficiente para não sentir nenhuma maldade daquele palhaço mal vestido.
- Que... - Quando a minha mãe começou a falar a roda gigante parou, estávamos no meio do "percurso", porém ainda muito longe do chão - O que foi isso?! - Exclamou ao ser cortada pelo acontecimento repentino. Uma luz vermelha piscava no painel lá em baixo. E dois ou três especialistas tentavam fazer a máquina voltar a funcionar sem maiores danos.
"Poxa" pensei na hora.
A montanha russa, ali ao lado, fazia um barulho estridente quando o carrinho passava, parecia que ia despencar a qualquer momento.

O palhaço não estava mais lá ao lado do sorvete gigante.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Por dentre o mar de janelas.

E se víssemos os prédios todos de cabeça pra baixo?
Como se tivessem sido despejados pelo céu em um mar de janelas, algumas apagadas e misteriosas, outras já sorridentes de iluminadas.
Cada janela nos mostraria uma realidade diferente?
Nos mostraria o mundo que elas estão resguardando ali?
Com o passar dos dias, com o passar das noites, as crianças daquelas criações vão saltando das janelas, e, preparadas ou não, vão, cada uma, abrindo suas asas moldadas e preparadas pelos seus próprios interesses, desejos e até mesmo motivações.
Elas vão planando, lentamente. Às vezes se esbarram umas nas outras; às vezes inclusive, lutam e discutem intencionalmente. Tem umas que ficam apenas observando e abrindo ao máximo suas asas para aproveitar as raras correntes de ar, e com isso ganhar vantagem na frente dos mais vagarosos e desatentos.
E ao por do sol, voando por cima daquelas faixas alaranjadas de luz, elas encontram outro mar, imenso, de janelas escuras, dispostas em fileiras verticais.
Sabe-se lá se vão estar dispostas a entrar e possui-las, e se somente o tempo dirá quantas das criações irão conseguir adentrá-las, acender suas luzes e dar vida a mais novas pequeninas criações.
Para que voem;
Lutem;
E se esforcem ao máximo para conseguirem chegar com vida à outra leva de janelas.

domingo, 11 de agosto de 2013

A sua, tão engenhosa, Mente.

  Uma coisa que eu admiro em ti, é o jeito que escreves, a forma com que dispões as Palavras, uma atrás da outra, interligando-As de um jeito que parece que os seus Pensamentos estão de fato tomando forma. Como se as Palavras, antes apenas em tinta, tomassem corpo e se tornassem uma Ideia tão absolutamente concreta de formas-Pensamento, ou até mesmo uma representação, saturada, do que faz parte da sua, tão engenhosa, Mente.
  E ao compartilha-los, os seus Pensamentos, em forma dElas, as Palavras, não parece que estais apenas a dividir o seu conhecimento, mas sim a arrancar um pedaço do seu mais intimo e precioso mundo, e disponibilizando-o, para que outros e outras, de mundos semelhantes, ou até mesmo de mundos inteiramente opostos, possam se apropriar desta migalha perceptiva de sopro-conhecimento, de experiências e mais experiências, desta misera migalha, do tão precioso que é o teu orbe do tão infinito que é o teu universo.
  Fazes isto, de uma forma tão sutil, que se mostra imperceptível a olhos pouco treinados. Pois, como podemos discernir acerca da diferença das palavras que são compostas apenas pelo nanquim frio e das Palavras que foram arrancadas humildemente da sua própria constelação de estrelas?
  Não sei como o fazes, mas é algo gratificante, tão gratificante, que te torna um deus, ou até mesmo uma deusa, assim como a todos aqueles que possuem a coragem de compartilhar um intimo, assim como a todos aqueles que têm em si a sabedoria das constelações de seu próprio universo, assim como a todos aqueles que guardam o poder de aderir a tinta aos seus pensamentos. 
Enfim... Assim como todos aqueles que esbanjam destes três triângulos para juntar palavras, e escrever uma frase;
Por mais curta que ela seja.