quarta-feira, 15 de agosto de 2012

5.

Uma música, pesada e pouco rítmica, tocava, alta, nos meus fones de ouvido enquanto o movimentar, em excesso, do ônibus me levava a uma sensação nauseante. Mas ali estava eu, sentado ao lado de uma cadeira vazia olhando pela janela perdido sob meus pensamentos em forma de sonhos, no meu cotidiano fatídico dia, quando, para minha surpresa, uma camisa branca se senta ao meu lado.

Uma garota.

Desvio o olhar um tanto quanto assustado, e percebo um rosto tranquilo e pálido olhando para suas unhas cor de rosa. Ela também estava perdida em formas-pensamentos próprios, tanto, que nem percebeu a minha notória observação.
Seus olhos brilhavam, como se estivessem segurando lágrimas já a um bom tempo.

domingo, 12 de agosto de 2012

Fotos

- Porque você guarda essas fotos ainda? - Perguntou ela.
- Porque eu gosto de relembrar aqueles velhos tempos - Respondeu ele.
- Você não se incomoda?
- Porque me incomodaria? Eles foram ótimos.
- Queime-as, pois você não os possui mais.
- Um certo dia, uma certa pessoa, me ensinou que as fotos não servem apenas para guardar, fisicamente, os momentos, elas, carregam consigo nossos pensamentos, memórias, sentimentos, lembranças, sonhos e, inclusive, nossas almas. As fotos são incrivelmente mais poderosas do que aparentam, como se ao soar do flash o enquadrado se permita a trancar uma parte de si dentro da, tão conhecida, obsoleta câmera, para que ao se deteriorar, ou a morrer, não se perca totalmente. Como se estivesse guardando uma parte de si neste mundo, tão fatídico. Então, agora vens a mim, com tamanha ingenuidade, perguntando se eu ainda guardei esta grandiosa parte da minha alma? Respondo-lhe, senhorita, que sim, do mesmo jeito como que você preserva tão belamente a sua vida, eu preservo tão belamente a minha.
- Então, vives inutilmente do passado?
- Fora o passado que me fez quem sou. Não seria nada se não vivesse do mesmo...

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Porque eu não escuto mais ninguém?

<Vamos descer no próximo ponto não vamos?>
<Aquele do parque?>


- Eu realmente não sabia o que estava fazendo naquele ônibus - Pensei.

<Quer um chiclete?>
<Vou andando pra casa, não aguento mais esse engarrafamento!>

<Lembra de Mariana?>
<Qual delas?>


- Eu só queria ir pra casa - Continuava - Porque eles não podiam fazer um pouco, só um pouco mais de silêncio?