terça-feira, 30 de outubro de 2012

Apenas Gotas.

Estava no pátio, de uma praça desolada.
Caminhava por dentre a diversos arbustos, devidamente cortados, e paralelepípedos milimetricamente ordenados.
O sol, grandioso como sempre, repousava, desta vez timidamente, atrás da silhueta das nuvens, já , por nós, conhecidas.
Com as mãos nos bolsos e a coluna esticada revirei a cabeça para o alto, e me dei de cara com o céu, escurecido pelos feches fracos e avermelhados da luz do sol.

Aquelas grossas camadas de nuvens escuras e inatingíveis.

Parei de andar.
Quando uma gota, fria e pálida, desceu contra a minha testa, dissolveu-se, e escorreu ao meu rosto.
Fiquei ali, estável, admirando a beleza do tão ignorado chuvisco.
As gotas, cada vez mais frequentes, rasgavam os céus, sem pouca compaixão, descendo até o inalcançável dos chãos sem cor, tocando cada ser de cada alma.
Em apenas poucos minutos já me sentia encharcado ainda junto a escuridão das nuvens, assim como todos que não sonhavam estar ali, Nossos pés, descalços, perdidos em poças, escuras e enormes, de chuva, permaneciam desajeitados, sujeitos a tal viscosidade do desconforto.

As gotas cessaram, e as nuvens, das quais as tinham liberado com tanto veemência  esvoaçaram junto às antigas correntes de ar, dando espaço, lentamente, aos avermelhados raios de sol, que agora,  por sua vez, se intensificavam, dando, finalmente, cor ao ambiente antes pálido.

- Você fora o único que presenciou o convite a nossa vida, e o único que poderá tira-la de nós - Disse, ao céu, para meus pensamentos, enquanto percebia, através da nova luz, que o que as nuvens tinham chovido, não eram simples gotas de chuva, mas sim gotas avermelhadas e promiscuas, das quais, nós seres pensantes chamamos de sangue.

Sorri.