segunda-feira, 29 de abril de 2013

O som de um vagalume

Aqui está ele, um menino, garoto ou homem, sentado em um balanço de madeira rustica, feito a mão, em frente à imensidão de um azul marinho praticamente negro. Enquanto um leve vai-e-vem constante do brinquedo dava movimento à noite, ele apenas olhava para o encontro, dos dois mais poderosos titãs, o Mar e o Universo. Uma linha tênue, praticamente imperceptível, permanecia separando os dois, talvez... se ela não estivesse lá, os dois gigantes poderiam acabar se destruindo, pouco a pouco, um ao outro, ou até, no melhor dos casos, se mesclando, se tornando um. Como seria interessante  ver as estrelas e constelações que tanto conhecemos, mergulhar sob a espuma das ondas?
 Enquanto ele, aquele menino, garoto, ou homem, se perdia neste tipo, tão esdruxulo, de pensamentos, não se deu ao luxo, de se deparar com mais duas presenças naquela noite.
Uma das presenças, a mais notória era uma menina, garota ou mulher, que usava um agasalho com a cor da mais bela das pétunias, caminhava, lentamente, com as mãos no bolso forrado,
- Não tá com frio? - Ela perguntou ao se aproximar de suas costas.
- Não - Respondeu deixando que o balanço parasse com o movimento de antes.
- Porque tá ai sozinho? - Ela esboçou um sorriso tímido, que, infelizmente, ele não pode ver.
- Pensando, apenas.
- Pensando sobre o que? - Sua voz mudou de tom.
- Nada.
- Diga - Mudou novamente. Seus braços se estenderam, em um abraço, pelos ombros dele, e logo depois despejados lentamente, para frente de seu corpo. Ela encostou a cabeça em seu ombro, e se apoiou contra as suas costas - Diga... - Repetiu.
- Como a noite é incrível, não é?
- É - Ela respondeu sem largar o abraço.

A outra presença, um pouco mais discreta, era eu. Estava parado, em cima de uma telha, observando aquelas duas crianças, aqueles dois adolescentes ou, até mesmo, aqueles dois adultos, que fitavam a imensidão desconhecida, e, aos poucos, percebiam o quanto a tinham para si.
Abri voo e fui planando até uma folha, ao lado do tão conhecido balanço.

- Olha... Um vagalume - Comentou ela apontando para um ponto brilhante, verde, no meio daquela escuridão. Ele olhou.
Eles sorriram.

Na posição em que me viam, parecia que uma estrela tinha acabado de invadir o mar.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A Garota de calça rosa.


Um certo dia, uma certa noite. Um garoto perdido em suas próprias formas-pensamento permanecia sentado, arrodeado do tão famoso cemitério dos livros, com um exemplar de fábulas em mãos. Os seus olhos, mesmo demonstrando uma pequena e incerta tranquilidade, se dispersavam por dentre a livraria em alguns poucos momentos cronometrados, como se estivesse a espera de alguém que já era para ter chegado. Tinha terminado de ler a segunda fábula, quando o seu celular, no bolso, vibrou.
"chegamos, vá indo para lá já" - Era uma mensagem.
"Tô indo" - Respondeu antes de se levantar, guardar aquele livro, albino, naquela estante levemente empoeirada, e voltar a sua atenção ao seu redor.
Um ambiente silencioso, algumas pessoas perambulavam revivendo livros daqui pra ali, como se fosse um ato comum do próprio cotidiano dessa livraria. Com passos largos, depois de se dar conta do ambiente do qual permanecera, ele se dispôs a andar. Saiu do vasto aposento, e se deu contra o resto do shopping. Infelizmente, nesta cidade, as livrarias só se encontravam nessas tão representativas construções, que lembram mais o consumismo do que a qualquer outra coisa. Ao subir mais um lance de escadas rolantes, se deparou contra a uma pequena multidão completamente desordenada. Foi caminhando por entre ela até avistar um pequeno grupo, de apenas três pessoas, uma delas acenou pra ele.
E inevitavelmente ele sorriu.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

O que vemos quando fechamos os olhos.

As vezes é bom chegar em casa sob a lua e compartilhar o que aconteceu baixo o sol, contar todas aquelas historias exageradamente belas e parcialmente fictícias, com uma gargalhada de lado a lado.

As vezes é bom dividir todas aquelas conquistas, aquelas glórias honrosas, aquelas perdas respeitadas e extrair das mesmas lágrimas baixo estrelas, ou dos mesmos sorrisos baixo trovões.

É bom apenas ter a certeza de que sob luas ou sob sóis, sob estrelas ou sob trovões, eu ainda poderei compartilhar minhas histórias, dividir minhas conquistas e extrair minhas lágrimas.
pois é você quem eu vejo quando fecho os olhos.