sábado, 22 de junho de 2013

Apertando os olhos se via uma ponte...

...Uma ponte de pedras pálidas, que cruzava um torrente profundo e abundante, se estendida por uma imensidão entre montanhas e árvores. Uma ponte que unia dois vilarejos tão bem compostos por casas robustas, pousadas humildes e tabernas ostentosas.
Por cima daquelas pedras tão bem colocadas, a luz, alaranjada, dos últimos raios do sol, iluminava mulheres, com seus aventais brancos carregando vasos cheios de de diversos tipos na cabeça, homens arrastando barricadas de madeira e carrinhos-de-mão igualmente pesados e cheios, crianças correndo umas atrás das outras, rindo e pulando contagiante e euforicamente, um cotidiano estável e promissor. Do qual o único medo das pessoas era a tão sinuosa noite.
Quando os últimos e mais deslumbrantes raios de sol se foram, dando lugar às tão promiscuas estrelas e a tão voluptuosa lua cheia, as pessoas não estavam mas sobre aquela ponte, nem sobre as sinuosas trilhas de barro por dentre às casas e muito menos pelas árvores da floresta escura que os encobria, todas elas repousavam baixo telhados, rodeados por quatro paredes, e debaixo de não mais do que dois ou três cobertores perante suas camas.
Porém, na escuridão desta noite não tão escura, uma garotinha, com idade entre dez à doze anos, foi pega correndo deliber e desesperadamente perante as pedras, agora não mais pálidas, da ponte. Seus pés, descalços e levemente esfolados pela agonia, faziam um barulho estrondoso ao manter contato com o chão, o único barulho do momento, a não ser pelo boo das corujas, e pelo roçar dos grilos. Seus olhos arregalados, numa tentativa fútil de captar a mais minuscula das partículas de luz, ela procurava uma casa, de telhado verde escuro, tijolos alaranjadamente saturados, construída com uma porta de madeira robusta, e uma maçaneta cor de ouro.
A sua casa.
Após ultrapassar a ponte, e se deparar com um labirinto de casas, árvores e estradas, por fim, se deparou com uma porta familiar, de uma parede familiar, que possuía um telhado familiar.
Com um meio sorriso aliviado no rosto, a garotinha girou a maçaneta da porta e, estranhamente, ela foi aberta com muita facilidade, como se estivesse sido apenas encostada.
"Mãe" ela pronunciou a se deparar com a falta das luzes acesas na casa.
"Mããe" continuou ela ao entrar na casa, sem obter nenhuma resposta.
Ao subir as escadas, uma porta foi aberta, e a garotinha pulou na cama em cima da mãe sonolenta, que não mais roncava.
Um cheiro estranho.
Ela sentia o cobertor um pouco empapado.
levantou-se, e sem resposta de sua mãe ou de seu pai, ascendeu uma vela já gasta, que estava disponível em cima de uma mesinha, ao lado da cama.
Ela gritou.
A cama estava empapada de sangue, que pingava, rítmica e ordenadamente no segundo piso de madeira da casa. Ela correu em direção à seu pai, apalpou-o, e ele estava do mesmo jeito, coberto até a cabeça pelas cobertas e com a vida escorrendo por dentre as cobertas e o travesseiro.
Outro grito pediu suplicas a sua garganta.
E lágrimas se desplumaram mais ainda de seus olhos, ao ver o seu irmãozinho, João, no berço da mesma mais horripilante forma.
A garotinha não conseguia mais conter os soluços que vinham por dentre os tão conhecidos gritos em silêncio.
Quando seguido por um trovão, que iniciou uma chuvisca.
Ela abriu os olhos, e pulando de sua cama, temendo o pior, correu para o quarto de sua mãe.
Ao pular por cima dela sentiu um certo nível de calor humano.
" O que foi Maria?" perguntou a mãe.
"Apenas tive um pesadelo" respondeu a filha se aconchegando entre o ronco do seu pai e o ninar de sua mãe.
Seus olhos semicerrados foram fechando.
E sua alma, em formato de corvo, batendo asas neste mundo imaginário do sonhar tão pouco conhecido.
Desta vez sem medo...
...Afinal, são os sonhos que desfrutam da nossa realidade, e os pesadelos permanecem apenas no mais profundo limbo dos nossos, tão diversos, mundos.